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sábado, 25 de outubro de 2014

Ser sincero, falar tudo, união e relacionamento

     Alguns parceiros acreditam que ser sincero, no âmbito do namoro ou do casamento, é falar tudo sobre nossos pensamentos, sentimentos, fantasias, sensações e emoções. Nada mais enganoso. A intenção aí parece ser a entrega total ao ser amado e que isso seja um símbolo da rendição a esse amor. Sim, intenção, porque o que passa a ocorrer é outra coisa.
     No momento em que alguém fala tudo sobre si para o outro, a pessoa não mais se responsabiliza pelos conteúdos que ocorrem em sua mente, já que o outro está a par de tudo. Dá-se ao outro a oportunidade e a chave para o controle da própria vida, e esta pode virar um inferno, pois quem quer ser totalmente controlado? Ao mesmo tempo, o outro se sente na responsabilidade de dominar a pessoa, pois esta lhe parece ingênua e irresponsável, o que é totalmente verdade, pois abriu mão de decidir o que dizer e não dizer ao parceiro. Esse controle pode transformar-se em um ciúme incontrolável, pois parte da premissa que alguém requer o nosso domínio, o que é ilusório. Ninguém pode controlar totalmente outra pessoa. E devido a essa verdade desafiar constantemente os dois lados, advém o ciúme, resultado de querer impor um controle impossível.
     Mas então não se pode ser sincero? A questão não é essa, mas o que pensamos a respeito da sinceridade. O que é ser sincero? Ser sincero é arcar com a própria responsabilidade sobre os conteúdos internos. É estar ciente de que, apesar de às vezes ocorrer algum pensamento ou sentimento infiel, sabe-se o que se quer, e que não se pode ter tudo. É ter a capacidade de decidir de acordo com a própria vontade e agir de acordo. Ser sincero com o outro é ser franco consigo mesmo, é se desafiar, é saber que existe um preço para tudo e pagar por ele. Ser sincero com o outro é não mentir para si mesmo, acima de tudo. Por outro lado, contar tudo se baseia no sentimento de que tudo é de graça, de que se está livre e se pode ser o que se é com o parceiro, de que todos os problemas estão resolvidos com “falar o que vier”. É voltar a ser criança, acreditando que não haverá maiores consequências. Já a sinceridade envolve muita maturidade.
     “Falar tudo” é querer se fundir, não estar separado e ser no outro. Não existe união, mas fusão. Na união ocorre a ligação entre duas personalidades diferentes; na fusão, uma junção baseada na ilusão de que as duas personalidades são iguais ou "almas gêmeas", por exemplo. Como a ilusão está em constante contradição com a realidade, os conflitos tenderão a ocorrer com frequência cada vez maior até que ocorra uma crise com a constatação das diferenças de cada parte, a grande decepção. Toda decepção se baseia em um engano com relação à imagem que se tem do parceiro. Na maior parte das vezes os parceiros projetam um no outro a expectativa do seu ideal de homem ou mulher, se recusando a corrigir a imagem que têm um do outro a partir dos vários indícios que se apresentam diariamente. Não corrigem essa imagem porque isso traria sofrimento, um ferimento e muitos conflitos ao relacionamento. Mas chega um ponto que um fato mostra claramente a contradição do que se esperava do outro e daquilo que ele realmente é. Vem a desilusão, o desengano, o grande desapontamento, a intensa contrariedade. A partir desse momento pode ocorrer uma separação definitiva, ou um reinício do relacionamento, desta vez baseado em premissas mais verdadeiras: a de que um é diferente do outro. Só o diferente pode se unir, pois quando se fala na união de duas pessoas, supõe-se que sejam diferentes, que há um encontro, pois então não seriam duas, mas uma só. Neste caso não haveria união, mas permanência da mesma condição anterior de inatividade e não de reunião.
     E o que fazer nesse caso, quando se chegou a uma crise, por exemplo, em um casamento, e se deseja uma “re-união”, agora baseada na realidade que são os dois cônjuges? A psicoterapia pode ser de grande ajuda. Ela ajudará cada lado a tomar consciência de si, a saber quem se é, como ocorreu o processo que findou na crise conjugal e como lidar com o “novo” parceiro. O casamento é então renovado, os cônjuges se sentem como se estivessem em um novo casamento, o que é totalmente verdade. A antiga fusão cedeu à união e os parceiros estarão mais bem preparados para enfrentar a vida juntos, sabendo que agora são dois, continuam sendo dois, mas em um.


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Casamento: separação e união

 

- Como entender-me com ela?
- Acima de tudo não a rejeite. Se você o fizer, o estará fazendo consigo mesmo. Com quem casou-se para o resto da vida? Quem é a companheira que te acompanhou em todos os problemas?
- Mas como eu faço? Onde encontrar forças para lidar com ela e não rejeitá-la como aconselhas?
- Pense em si mesmo. Você não pretende aceitar-se como um todo para evoluir seu espírito e integrar sua personalidade? Se certas qualidades/defeitos que ela possui o incomodam tanto, estas não o incomodarão dentro de ti mesmo?
- Mas ela faz o que já combinamos não fazer...
- E quantas vezes você também já não concordou, em seu íntimo, não se comportar de certa maneira, sem sucesso? E quer exigir isso do outro? Trate-a com amabilidade! Diga com carinho que ficou chateado, que ficou triste com a atitude que ela tomou, mas diga olhando nos olhos, com carinho. Ela antes se arrependerá de te fazer sofrer, do que por ter te contrariado... Para contrariar o outro basta existir, pois é inerente à diferença, à individualidade, contrariar o outro. Mas não fazê-lo sofrer. Perceba: o outro é contrário a eu.
- Mas não será essa contrariedade um sofrimento?
- Pode até ser, mas o é de uma forma diferente, pois é um sofrimento passivo e não ativo.
- Entendo... Bem, já me imagino chegando e a abraçando...
- Você acha que ela não está sofrendo por você?
Em casa, ao reconciliarem, ela diz:
- Como você ainda me suporta?