Sempre me intrigou o fato de o senso comum, ou a tradição popular, alegar que, ao se sonhar com uma pessoa, outra acaba morrendo. Estudo os sonhos há mais de 20 anos, mas até hoje não encontrei resposta satisfatória para esta e várias outras questões envolvendo sonhos. Mas uma boa conversa, há pouco mais de um ano, me deu uma pista dos caminhos que nossa psique traça para tecer o sentido do destino.
Um amigo relatou que sonhara com a morte do seu tio paraplégico. Então comentou que quem viera falecer, na verdade, fora outra pessoa, no caso, sua ex-esposa, como costuma ocorrer quando se sonha com a morte de alguém. Normalmente, nesses casos em que não se sabe a conexão, ou não se tem ciência do significado do sonho, muito provavelmente este acaba sendo encontrado oculto no inconsciente do sonhador. Investiguei com ele sobre o seu tio. Disse que este procura ser independente das pessoas, fazer tudo por conta própria, apesar das sérias limitações de sua paraplegia. Por outro lado, sua ex-esposa revelava ser uma personalidade totalmente oposta à dele, uma vez que procurava se identificar com as suas limitações psicológicas, tornando-se totalmente dependente das outras pessoas. Era uma pessoa cheia de conflitos, que usava de chantagens emocionais para com o sonhador, e era deprimida, recorrendo a medicamentos psiquiátricos. Acreditava que ela suicidara com tais remédios.
Interessante aqui é que geralmente não encontramos evidências claras do sentido dos sonhos porque esperamos encontrar o vínculo dos fatos ou ideias na aparência dos acontecimentos. A psicologia, no entanto, procedendo à investigação científica do mundo psíquico, descobriu que os sonhos são como estórias que narram o que acontece interiormente com os sujeitos, em seu inconsciente. E sua linguagem sempre se revela muito clara e coerente quando procedemos aos métodos de trabalho com sonhos e conseguimos a descoberta do sentido oculto. O mesmo ocorre no presente caso.

Esses dois casos revelam o quanto ainda ignoramos certos processos simples e corriqueiros de nossa psique. A ciência avançou muito em certos campos, e até no aspecto material dos sonhos, mas insiste em não pesquisar e em ignorar certos fenômenos empíricos relacionados a eles. A linguagem simbólica é desprezada em favor da científica, por causa de sua inexatidão e inadequação aos métodos técnicos. Isso é óbvio, uma vez que ela se volta para a interioridade dos indivíduos, da qual ficamos cada vez mais distantes. É hora de crescer menos para fora e amadurecer por dentro.
(Leia mais a respeito: "Previsão de fatos, contextos e ideias irracionais", "A ampliação da consciência humana", "O sentido das admiráveis coincidências", "Morte, sonho e sincronicidade")
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