Ouve-se tanto falar em quebra ou destruição de valores e extinção de instituições – entre elas, a família, considerada por muitos uma das mais importantes. Mas será que tudo isso não é parte de um processo maior de renovação de valores e de instituições? Renovação porque, a princípio, tudo o que termina e é extinto, deve ou pode ser suplantado por outros processos ou estruturas. É claro que o curso dessas mudanças normalmente é muito doloroso, mas é justamente como ocorre em nossas próprias vidas. É uma reflexão apropriada para este final de ano.
Eliade (2010, p. 105-107) relata uma crise no Egito de 2.200 a 2.050 a.C. que o sacudiu com uma grave guerra civil, a divisão em dois reinos e o desmoronamento do Estado. Ao final da crise houve um verdadeiro renascimento. Invoco esse acontecimento remoto para lembrar como esses processos ocorrem desde sempre. A residência real foi ameaçada de ser demolida, os túmulos das pirâmides foram pilhados, as províncias e os templos já não pagavam impostos... Com o vandalismo, destruía-se os túmulos dos ancestrais e se transportava as pedras para os próprios túmulos. Inúmeros mortos eram sepultados no rio. O faraó não era mais o “filho de Deus”.
Um texto comovente da época, “O debate sobre o suicídio”, é um diálogo entre um homem atormentado pelo desespero e sua alma (bâ). “A quem eu falaria hoje? Os irmãos são maus, os companheiros de ontem não se amam. … Os corações são ávidos: cada qual deseja os bens do seu vizinho. … Já não existem justos. O país está abandonado aos que cultivam iniquidades. … O pecado que paira sobre a Terra não tem fim.” Mirce Eliade alega que textos como esse representavam mais que testemunhos de uma grande crise: ilustravam a tendência do espírito religioso egípcio de ampliar-se, de conceder importância à “pessoa humana como réplica virtual do modelo exemplar, a pessoa do faraó” (ELIADE, 2010, p. 107). Por fim, após muito tempo, o faraó perdeu seu poder para que houvesse a concessão de relativa autoridade a cada indivíduo em particular. O que houve no Egito reflete um processo que ocorre até hoje: a marcha das mudanças, a renovação da vida que carrega consigo a “morte” de valores tradicionais. O que não dizer das variadas denúncias de corrupção que ocorrem hoje no Brasil, além da crise de valores que impera no mundo todo?
A psicologia pode ter uma resposta para essas questões.
Eliade (2010, p. 105-107) relata uma crise no Egito de 2.200 a 2.050 a.C. que o sacudiu com uma grave guerra civil, a divisão em dois reinos e o desmoronamento do Estado. Ao final da crise houve um verdadeiro renascimento. Invoco esse acontecimento remoto para lembrar como esses processos ocorrem desde sempre. A residência real foi ameaçada de ser demolida, os túmulos das pirâmides foram pilhados, as províncias e os templos já não pagavam impostos... Com o vandalismo, destruía-se os túmulos dos ancestrais e se transportava as pedras para os próprios túmulos. Inúmeros mortos eram sepultados no rio. O faraó não era mais o “filho de Deus”.
Um texto comovente da época, “O debate sobre o suicídio”, é um diálogo entre um homem atormentado pelo desespero e sua alma (bâ). “A quem eu falaria hoje? Os irmãos são maus, os companheiros de ontem não se amam. … Os corações são ávidos: cada qual deseja os bens do seu vizinho. … Já não existem justos. O país está abandonado aos que cultivam iniquidades. … O pecado que paira sobre a Terra não tem fim.” Mirce Eliade alega que textos como esse representavam mais que testemunhos de uma grande crise: ilustravam a tendência do espírito religioso egípcio de ampliar-se, de conceder importância à “pessoa humana como réplica virtual do modelo exemplar, a pessoa do faraó” (ELIADE, 2010, p. 107). Por fim, após muito tempo, o faraó perdeu seu poder para que houvesse a concessão de relativa autoridade a cada indivíduo em particular. O que houve no Egito reflete um processo que ocorre até hoje: a marcha das mudanças, a renovação da vida que carrega consigo a “morte” de valores tradicionais. O que não dizer das variadas denúncias de corrupção que ocorrem hoje no Brasil, além da crise de valores que impera no mundo todo?
A psicologia pode ter uma resposta para essas questões.
As pessoas não percebem que as nossas ideias gerais, nossas teorias gerais, são baseadas em princípios que já não estão mais vivos; pois elas não são ideias modernas. Muitas pessoas estão começando a lutar contra nossas instituições, porque eles não podem mais acreditar nos princípios por eles defendidos, por isso surgem os estados de agitação em toda a parte. Nossa moralidade é ainda baseada em suposições medievais. Gostaríamos de admitir que não acreditamos mais no fogo do inferno, mas o fato é que não temos outra base para a nossa moralidade, exceto a ideia do fogo do inferno. (JUNG, 2014, p. 194)
Jung afirmou isso em 1929, mas sua constatação ainda é válida há mais de 80 anos!
Por outro lado, o mesmo autor afirma que a palavra moral não possui um significado definitivo, já que é relativa. Em certas sociedades, por exemplo, era moral sacrificar crianças, torturar, comprar e vender escravos. Embora a associemos à ideia do bem e do mal, deve-se ter em mente que ela tem um significado relativo e não absoluto (JUNG, 2014, p. 195).
Acontece que os símbolos religiosos que imperavam algum tempo atrás perderam sua energia. Já não estão vivos na psique da maioria das pessoas. O “Céu” e o “Inferno” medievais já não convencem. E aqui no Brasil o investimento simbólico na autoridade está se esgotando rapidamente, como já ocorreu em muitos outros países. Tende-se a compreendê-la como uma servidora do povo e não o contrário. Infelizmente, devemos ficar na expectativa de assistir ao nascimento do próximo símbolo que mobilizará as pessoas nesse novo tempo. Talvez isso ocorra ainda em muitas décadas, mas é certo que acontecerá como sucedeu em muitas outras épocas e povos.
Por outro lado, o mesmo autor afirma que a palavra moral não possui um significado definitivo, já que é relativa. Em certas sociedades, por exemplo, era moral sacrificar crianças, torturar, comprar e vender escravos. Embora a associemos à ideia do bem e do mal, deve-se ter em mente que ela tem um significado relativo e não absoluto (JUNG, 2014, p. 195).
Acontece que os símbolos religiosos que imperavam algum tempo atrás perderam sua energia. Já não estão vivos na psique da maioria das pessoas. O “Céu” e o “Inferno” medievais já não convencem. E aqui no Brasil o investimento simbólico na autoridade está se esgotando rapidamente, como já ocorreu em muitos outros países. Tende-se a compreendê-la como uma servidora do povo e não o contrário. Infelizmente, devemos ficar na expectativa de assistir ao nascimento do próximo símbolo que mobilizará as pessoas nesse novo tempo. Talvez isso ocorra ainda em muitas décadas, mas é certo que acontecerá como sucedeu em muitas outras épocas e povos.
(Leia mais a respeito: "João-pé-de-feijão: vendendo os gigantes da vida" e "Morte, sonho e sincronicidade")
Referências
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas: da idade da pedra aos mistérios de Eleusis. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. vol. I.
JUNG, Carl Gustav. Seminários sobre análise de sonhos. Petrópolis: Vozes, 2014.
JUNG, Carl Gustav. Seminários sobre análise de sonhos. Petrópolis: Vozes, 2014.
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